segunda-feira, 19 de março de 2012

ENTENDENDO A PREDESTINAÇÃO


Por: Pb Elton Dias Fonseca
Presidente da UMADESD
 
Parte integrante da Soteriologia, um ramo da Teologia sistemática que estuda a salvação descrita nas Sagradas Escrituras, a predestinação é ponto conflitante entre muitas correntes, que inicialmente parece ser matéria muito complicada, e por isso negligenciada, toda via constitui-se em disciplina indispensável para aqueles que desejam entender o plano de Deus para a Humanidade.
Neste sentido nestas poucos linhas pretende-se sumariamente de forma sucinta estudar sobre esta importante matéria.

1.             Etimologia da Palavra e Definição teológica de predestinação: a palavra grega que aparece nos textos para Predestinação é proorizo, que traduzido de forma integral ao nosso vernáculo quer dizer, “decidir de antemão”, ou “algo anteriormente determinado”. Do latim a palavra equivalente é praedestinatione, que em português quer dizer: ato ou efeito de predestinar; predefinição, prognóstico, ou seja destinar com antecipação, ou ainda escolher desde toda a eternidade. Em português esta palavra é formado pelo prefixo PRE (antes, anterior a) + Destinar (verbo), assim em português esta palavra significa destinar antes.
Rm 8:29 Porque os que dantes conheceu também os PREDESTINOU (proorizo) para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.
Diante do texto indicado e do significado da palavra, dá pra entender o porquê desta matéria ser taxada de difícil compreensão e ter tornado um ponto de conflito entre algumas correntes teológicas, principalmente entre os calvinistas, que defendem a predestinação no sentido integral e amplo da palavra.
Neste sentido, teologicamente predestinação é entendida como parte da presciência divina que é a capacidade divina de saber de antemão todas as ocorrências antes que estas ocorram, sendo a presciência por tanto parte da onisciência, atributo divino que implica no poder que nosso Senhor tem de ter toda a ciência, isto é todo saber, ou ainda saber todas as coisas.
Assim a predestinação trata-se da capacidade de Deus de saber antes que ocorra quem alcançará ou não a salvação. A este ato da presciência divina em saber de antemão quem será salvo Paulo em Romanos 8:29 e as Escrituras chamam de predestinação. Assim diz-se que estes foram predestinados a salvação, ou seja foram escolhidos de antemão, conforme a palavra do Senhor desde a eternidade, os salvos foram destinados a salvação antes mesmo da fundação do mundo.

1.2 Predestinação não é fatalismo
Algumas Igrejas, principalmente as adeptas ao calvinismo e aos ensinos de Agostinho usam a palavra de Deus para defender a teoria da predestinação baseada no fatalismo, que é uma doutrina que admite que o curso dos acontecimentos está previamente fixado, nada podendo alterá-lo, o que também é chamado de determinismo. Conforme esta doutrina Deus tem tudo já decidido, tudo estaria assim predeterminado por Deus, indiferente as ações humanas, em algumas alas mais radicais desta teoria chega-se até mesmo crer que Deus define até mesmo o que o homem fará.
Neste sentido conforme os deterministas ou fatalistas, tudo está determinado a acontecer e assim será porque Deus assim o determinou, desta maneira, aqueles que Deus escolheu, ou predestinou serão salvos mesmo que “a pulso”, de qualquer jeito, e os demais não serão.
O que não condiz com a verdade bíblica, já que Deus criou o homem dotado de livre arbítrio, pois deu-lhe Deus o poder de escolha. Neste sentido é o próprio homem que define seu destino, através das escolhas tomadas durante sua vida.Veja:

1.3 Fatalismo x Livre arbítrio.
Na criação: Gn 2.9 “E o SENHOR Deus fez brotar da terra toda a árvore agradável à vista, e boa para comida; e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal.”.
Quando Deus cria o homem ele o criou dotado de livre arbítrio, isto é dotado de capacidade de fazer escolhas, inclusive a de servi-lo e obedecê-lo ou não, tanto que ele mesmo criou as duas árvores, no intuito de deixar sua criação bem a vontade para sua escolha, se o determinismo for verdade, que sentido faria o livre arbítrio humano, já que uns estariam escolhidos pra perdição e outros pra vida eterna. 

Ninive: Jn 3.10 E Deus viu as obras deles, como se converteram do seu mau caminho; e Deus se arrependeu do mal que tinha anunciado lhes faria, e não o fez.”
Veja claramente a escolha humana mudando a ação divina, isto deixa claro que o homem é quem decidirá seu destino, já que Deus não criou robôs, mas sim homens detentores de vontades, razão, desejos e sentimentos, capaz de escolher o que deseja para si. Nesta lição até mesmo o profeta ficou frustrado, pois não pode entender os desígnios divinos do livre arbítrio. A nação sentenciada a destruição , arrependida de seus maus caminhos converteram ao Senhor e mudou o rumo de sua história deixando o profeta de Deus frustrado, por vê suas palavras serem mudadas pela ação do povo que automaticamente fez Deus mudar os planos para aquele povo ante incrédulo, mas agora temente a ele. 

Ap 3.20 “Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo.”
Cristo dá a universalidade de seu chamado e da voluntariedade humana de aceita-lo ou não, ele diz que está na porta e batendo de todos os homens através da pregação do seu evangelho ele esta solicitando a todos os homens a permissão para entra em sua vida, e ele deixa claramente que não há restrições, todos aqueles quem ouvir sua voz e permitir sua entrada ele adentrará e ceiará com ele dando-lhe o maná celestial.

Jr 15.19 “Portanto assim diz o SENHOR: Se tu voltares, então te trarei, e estarás diante de mim; e se apartares o precioso do vil, serás como a minha boca; tornem-se eles para ti, mas não voltes tu para eles.”
Estas palavras foram anunciadas por Jeremias sob inspiração Divina convidando o povo de Deus a abandonar seu pecado. Veja que poderia Deus determinar que seu povo voltasse a ele e arrependesse de seus pecados, mas ele não o faz pois ele não interfere de forma direta nas escolhas do homem, outorgando a estes assim o direito de definir o que querem para si. E o pior foi que Judá preferiu contra a vontade de Deus abandonar os caminhos de paz, e optaram pelas cisternas rotas em vez do manancial de agua viva.
Veja que não há comunhão entre a predestinação fatalista e o livre arbítrio, pois um contrapõe o outro, não podendo coexistir os dois simultaneamente. Já que Deus predestinou um grupo a salvação, sendo estes salvos a todo custo, e outros de forma alguma alcançarão perdão para seus pecados, como pode alguém que não compõe este seleto grupo dos escolhidos ter o direito de escolher a Deus e ter seus pecados apagados, já que Deus os destinou a perdição eterna?
Há uma ala que tenta conciliar o fatalismo e a predestinação pregando que estes grupos já predefinidos estão identificados e quem compõe o grupo dos perdidos, por exemplo, por mais que ouça a palavra de Deus jamais se arrependerão, e o outro grupo mesmo que seja no último folego de vida, se arrependerá e alcançará o perdão divino.
Mesmo esta forma mais moderada do fatalismo não é compatível com o livre arbítrio pois os grupos já estão fechados e não pela decisão humana mas pelo fatalismo divino.
Hora ao Dizer que Deus predestina uns à salvação e fará tudo pra salvá-los e outros à perdição, estamos no mínimo admitindo que ele não é justo, e não age com equidade conforme preceitua sua palavra já que a salvação esta limitada a determinação divina e não na escolha do homem.

2.             Vontade Diretiva e Vontade permissiva de Deus.
Para entender um pouco mais do assunto precisamos entender um pouco mais da vontade diretiva e da vontade permissiva de Deus, como o espaço é pouco, não se pode aprofundar neste assunto, sendo visto apenas o suficiente pra entender a cerca da predestinação.
A vontade diretiva de Deus é aquela que é expressa pelo profeta Isaias 43.10, que é irrevogável, e que fatalmente não será impedida de acontecer, já que o todo poderoso a fará acontecer a todo custo. Nesta esta a sentença para o Diabo, o arrebatamento da Igreja, a grande Tribulação; entre outros que nada poderá ou pode impedir a sua ocorrência pois Deus assim havia estabelecido.
Já a vontade permissiva de Deus é aquela que na verdade não é sua vontade, mas ele permite que ocorra por conta da escolhas humanas, veja o que diz  1Tm 2.4, que expressa a vontade ou desejo divino para a humanidade: 1 Tm 2.4: “Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade.
Veja que mesmo sendo a vontade de Deus que todos os homens se salvem não serão todos que alcançarão a vida eterna, e com certeza não será por que Deus assim o quis, pois Paulo indica ao jovem Timóteo que seu desejo é que todos se salvassem.
Outro exemplo bem claro da vontade permissiva são os escritos dos profetas que profetizaram sobre Israel e Judá após a divisão do Reino, onde Deus usara seus servos pra indicar o povo seu desejo de se aproximar de seu povo e lhes ajudar, mas as suas iniquidades os separavam de seu Deus, Isaías 59:2, e que mesmo diante da expressão divina de sua vontade por meio das palavras dos profetas o seu povo não o ouviu e foram destruídos Israel pelos assírios (721 ac) e Judá pelos babilônios (596 ac).
  E em qual destas a Salvação esta englobada? A salvação só pode está dentro da vontade permissiva de Deus, já que como visto o desejo divino é que todos a alcance, e não apenas um seleto grupo escolhido a dedo de forma fatalista, Veja ainda que Deus oferta a salvação a todos e est está diretamente ligada a escolha humana.

2 Deus oferta salvação a todos.
Foi visto e ITm 2.4, o desejo divino expresso nas Sagradas Escrituras é que todos os homens se salvem, desejo este ainda expresso na grande comissão da Igreja (Mc 16:15), ora se apenas um grupo fosse escolhido e predestinado a salvação e outro à perdição, que sentido faria o Senhor mandar-nos ir por todo mundo? Ou ainda seu convite em Mt 28.11 “Vinde a mim todos vos que estais cansados”, se tornaria sem nexo, já que ele predestinou alguns a salvação, por que ele convidaria todos? Isto evidencia que a salvação está à disposição de todos, pena que apenas alguns a desejam e a buscam.

3 Conclusão: O Salvo e a predestinação:
Como se viu a predestinação nada tem a ver com o determinismo divino, assim ninguém poderá acusar Deus de ter escolhido uns e rejeitados outros, pois ele ama e oferta a salvação a todos, cabe ao homem a escolha, mas ele por ser Deus sabe aqueles que hão de alcançar a salvação, que voluntariamente decidiram entregar sua vida a ele, a estes Deus predestinou:
Rm 8:30 E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou.
Ef 1:11 nele, {digo,} em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados conforme o propósito daquele que faz todas {as coisas,} segundo o conselho da sua vontade,
At 22:14 E ele disse: O Deus de nossos pais de antemão te designou para que conheças a sua vontade, e vejas aquele Justo e ouças a voz da sua boca.
Ef 1:5 E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade,
Neste sentido o que a palavra de Deus quer dizer ao afirmar que os santos foram predestinados?
Ora como visto na definição, a predestinação bíblica não é fatalista, pois esta imputaria a Deus injustiça, o que não é verdade, mas é apenas um item da onisciência divina, onde sendo o Senhor presciente, sabe de todas as coisas antes que estas ocorram, inclusive a salvação.
Sendo onisciente e, portanto, dotado da presciência sabe então Deus quem haverá de alcançar a vida eterna e os que hão de ser condenados, mas de forma alguma interfere no livre arbítrio do homem, ele apenas o convida para aceita-lo com Senhor de suas vidas, através da pregação e da maneira santa de viver do seu povo, no Antigo Testamento por meio de Israel e na nova aliança por meio da Igreja.
A predestinação fatalista é no mínimo uma afronta a justiça divina e contrapõe todos os ensinos bíblicos a cerca do livre arbítrio, pois o fato da salvação estar vinculado ao mesmo tempo a onipotência divina capaz de perdoar pecado e modificar a vida do mais vil pecador e do livre arbítrio, isto é dependendo da escolha que o homem fizer, não diminui a divindade de Deus, e nem o torna menos poderoso, como acreditam os fatalistas, ao contrário o torna ainda mais divino e mais poderoso, já que não usa seus atributos divinos para forçar ninguém segui-lo, mas tão somente nos cerca com seu amor fazendo-nos optar em servi-lo.
  
   




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